Café, palavra que parece derivar do árabe qahhwah, apesar de alguns etmologistas a relacionarem com Kaffa, província do sul da Etiópia, de onde a rubiácea é nativa. Originário da Abissínia, onde aparece como planta selvagem, o café tem sua história envolta em mistérios e lendas. Uma delas conta que a bebida foi criada pelo arcanjo Grabiel, a fim de restaurar as forças de Maomé, que após ingeri-la, tornou-se capaz de derrubar quarenta cavaleiros e conquistar igual número de damas.

Monges que viviam na região prepararam uma infusão com o fruto, passando a tomá-la assiduamente, pois esta os mantinha despertos para melhor enfrentar as noites de vigília e oração. A planta descendo das montanhas da Etiópia, aclimatou-se muito bem no Iemên, surgindo nessa região uma produção em larga escala. Devido a proibição de bebidas alcoólicas pela religião maometana, o café tomou conta do mundo árabe, passando a ser consumido por todos: nos lares ao amanhecer, nas mesquitas durante os cultos religiosos, nas estações para reconfortar os viajantes ou nas casas de café instaladas nas grandes cidades.

Conhecida como Vinho do Islam, a bebida sofreu no início do século XVI sua primeira perseguição, chegando a ser proibida durante algum tempo pelos maometanos. De Meca, o café espalhou-se, durante o século XVI, pelo mundo oriental, atingindo a Damasco, Alepo, Istambul e a cidade do Cairo, que se tornou o grande mercado distribuidor do produto. Para manter o monopólio da rubiácea, os árabes somente permitiam que saíssem do país grãos previamente fervidos, que não germinariam em outras terras. Esta medida, porém não impediu que os holandeses levassem a planta para Java, Sumatra e Ceilão e, posteriormente, para as Antilhas Holandesas, atingindo as colônias uma produção de cerca de 500 toneladas anuais. A Propagação do Café Inicialmente o café foi conhecido na Europa por suas propriedades medicinais, de grande e variado poder curativo, que alçaram a categoria de verdadeira panacéia, atingindo preço elevadíssimo.

A partir do século XVII, o mundo europeu passara a adotar o café como bebida. Sua introdução na Europa, em moldes comerciais, deve-se aos holandeses, reponsáveis também pela divulgação do cafeeiro pelo mundo. De um arbusto, trazido de Java para o Jardim Botânico de Amsterdam, foram tiradas mudas posteriormente ofertadas aos principais jardins botânicos europeus. Na Itália, onde entrou em 1615 através do porto de Veneza, o produto teve que vencer forte resistência da Igreja. Cristãos Fanáticos incitaram o Papa Clemente VIII a condenar o consumo da bebida, tida como invenção de Satanás. Ao provar o café, porém, o Papa declarou: “Esta bebida é tão deliciosa que seria um pecado deixá-la somente para os infiéis. Vençamos Satanás, dando-lhe nossa benção e tornando-a verdadeiramente cristã.” Em decorrência dessa benção papal os cafés proliferaram em Veneza, Gênova e, no fim do século XVII, eram encontrados em todo o país. Em 1650, em Oxford, um judeu libanês chamado Jacobs instalou o primeiro estabelecimento de venda do produto na Europa. Dois anos depois, o grego Pasquá Roseé abre em Londres o primeiro café europeu e manda publicar, no The Publish Adviser, o mais antigo anúncio de café de que temos notícia: “Na Travessa Bartolomeu, por detrás da Bolsa Velha, pode-se tomar a bebida chamada café, muito saudável e portadora de excelentes virtudes: fecha o diafragma, aumenta o calor interno, ajuda a digestão, aguça o espírito, dá leveza ao coração, é boa para dor dos olhos, tosse, gripe, resfriados, turbeculose, dor de cabeça, hidropsia, gota, escorbuto, escorfulose e muitas outras moléstias.

É vendida tanto de manhã como as três horas da tarde.” O hábito de tomar o café agradava ao espírito pragmático dos ingleses, pois, como observavam, era uma bebida inocente, que, ao contrário do álcool, não pertubava as atividades vespertinas daqueles que a ingeriam durante o almoço. Paralelamente ao sucesso obtido pela bebida, surgem movimentos de contestação, como aquele promovido pelas mulheres inglesas que, talvez insulfladas pelos cervejeiros, insurgiram contra o seu uso. Segundo elas, o café “gasta a força viril dos homens e torna-os áridos como as areias da Arábia, de onde veio esse grão maldito”. Em Paris, um levantino instalou, no Petit Chatelet, uma butique para a venda de café em grão ou como infusão, contribuindo muito para a divulgação do produto, que em breve passou a ser grandemente apreciado pelos reis e pela nobreza francesa, a ponto do Cardeal Mazzarin mandar vir da Itália um especialista no preparo da bebida. Durante o reinado de Luiz XIV, Paris inteira comentava os jantares oferecidos à corte pelo embaixador de Maomé IV, Solimão Agá Mustafá, nos quais o ponto alto era a cerimônia de preparação do café, servido por belos escravos, vestidos à moda turca. O café arraigou-se nos hábitos do povo alemão, que preferia a bebida misturada com leite. Em 1680, instalou-se em Hamburgo o primeiro café para venda ao público. Nas Kaffehaus, pequenas orquestras começam a se apresentar, unindo a bebida a outra paixão dos alemães: a música. Entre esses grupos podemos destacar o Collegium, de Leipzing, cujo diretor, J. S. Bach, compôs, em 1732, sua célebre Cantata do Café, para ser tocada nessas ocasiões. Fredeirco, o Grande, da Prússia, preocupado com a evasão de divisas decorrentes da importação de café, promulgou um decreto, em 1781, proibindo o uso de café que não fosse torrado em estabelecimentos oficiais. Como estes cobravam um preço exorbitante, o produto passou a ser inacessível ao bolso das classes populares, diminuindo assim, o consumo da bebida no país.

O uso do café em Viena teve origem quando, após o cerco de 1683, os turcos abandonaram a cidade deixando entre os despojos algumas sacas de um produto desconhecido, inicialmente confundido com forragem para animais. Franz George Kolchitzky, tendo vivido no Oriente conhecia os grãos, apoderou-se das sacas e procedeu à elaboração e venda do produto, ao qual juntou açúcar e creme chantilly, assim nascendo o tão apreciado café vienense. Nos Estados Unidos, o café passou a ser conhecido em meados do século XVII, trazido pelos holandeses, que ocupavam Manhattan, então chamada New Amisterdan. Nova Iorque tornou-se um grande mercado da rubiácea e, já em 1732, funcionava em Wall Street a Exchage Coffee House of New York, depois subistituída pela Merchant’s Coffee. O Café no Brasil O café só chegou ao Brasil em 1727, trazido da Guiana Francesa pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta, especialmente enviando pelo governo ao País vizinho para conseguir mudas do produto. A obtenção das sementes, que eram proibidas aos portugueses, está envolta em uma aura de romantismo: a esposa do governador da Guiana, tendo-se apaixonado por Palheta, o teria presenteado, na despedida, com um punhado de sementes de café. Nos primeiros tempos o cafeeiro se desenvolvera apenas nas províncias do norte do país, em plantações de reduzida importância. O café chegou ao Rio de Janeiro no início do século XIX, e foi plantado em chácaras na Tijuca, Gávea, Andaraí e Jacarepaguá. Devemos destacar as plantações do francês Louis François Leceane, antigo fazendeiro em São Domingos e Cuba, que introduziu modernas técnicas agrícolas em suas terras na Gávea Pequena, ao mesmo tempo em que se prontificava a orientar os que quisessem aprimorar seus cafezais. A chegada de D. João VI provocou um grande êxodo da população carioca, obrigada pela inexorável ordem PR (Príncipe Regente), colocada nas fachadas, a desocupar casas, em favor dos recém-chegados. Muitos desses moradores partiram para suas propriedades rurais, onde se dedicaram à cafeicultura, dando início à marcha vitoriosa do café pelas terras fluminenses e paulistas do Vale do Paraíba.

Em 1850, o Brasil já era o maior produtor mundial da rubiácea, participando com 40% da produção total, percentagem que atingiria 81 % no início do século XX. Baseando-se na mão-de-obra servil, o café seria o sustentáculo de uma aristocracia rural tão opulenta quanto a dos senhores de engenho, composta de ricos fazendeiros do Vale do Paraíba e da região de Campinas, muitos dos quais se tornaram titulares do Império – chamados Barões do café. Nestas propriedades, verdadeiros feudos, desenrolava-se uma vida de luxo e riqueza comparável a da corte, propiciada pelos imensos cafezais, alguns com mais de milhões de pés, que se estendiam a perder de vista. Nas últimas décadas do século XIX, vários fatores como o esgotamento das terras, a dificuldade em obtenção de mão-de-obra escrava, a Abolição e a República provocaram a decadência e abondono dessa região. O café, porém, continuou sua marcha em direção ao oeste paulista, onde as manchas de terra roxa propiciavam uma produtividade excepcional. As dificuldades com o transporte do café, em carros de boi e lombo de muares, provocaram o interesse dos fazendeiros paulistas na construção de estradas de ferro.

Em 1887, inaugurou-se a Santos-Jundiaí, que unia Santos, principal porto de exportação de café, as zonas de produção. Outras ferrovias surgiram como a Paulista, a Mogiana, a Sorocabana e a Noroeste; cujos traçados orientaram a direção de novas lavouras de café; mais tarde os cafezais atingiram também o norte do Paraná. São Paulo tornou-se a Metrópole do café. O progresso atingiu também as cidades do interior, onde surgiram bancos e casas bancárias para atender a estrutura financeira que a produção exigia. A riqueza cafeeira atraiu grande número de imigrantes, sobretudo italianos, que para aqui vieram nos fins do século passado em busca de novas perspectivas, contribuindo com seu trabalho e alegria para dar novo colorido à vida de nossas fazendas. Em 1908, chegaram os primeiros imigrantes japoneses para trabalhar nas plantações do interior paulista. A apanhadora de café, de saia rodada e chapelão de palha tornou-se o símbolo da riqueza paulista, enquanto as crianças eram embaladas pela canção: “Dorme nenê que a cuca vem pegar; Papai foi na roça, mamãe no cafezá.” Com o advento da República, os coronéis do café, através da chamada política do café-com-leite, passaram a dividir e alternar-se com os mineiros na condução do destino do país.

A crise de 29, porém, veio a afetar profundamente a cafeicultura. Levando muitos fazendeiros à miséria e ao desespero, contribuiu para a eclosão da Revolução de 30, que trouxe uma nova ordem de idéias, da qual a oligarquia cafeeira não iria participar. Em sua trajetória pelo mundo, o café constituiu fonte de inspiração para artistas e literarios. No Brasil, esteve sempre presente como tema para escritores e pintores melhor registrarem os aspectos mais característicos da vida brasileira. O Café Hoje O café é sem dúvida a bebida mais popular do mundo. Em qualquer hora, em qualquer lugar, ele é sempre bem-vindo. Sua presença é indispensável em muitas ocasiões: ajuda a acordar pela manhã, refaz as forças nas horas do trabalho e das viagens e mantém as pessoas despertas nas longas noites de vigília. E todo encontro casual nas ruas sempre termina com o convite: Vamos tomar um cafezinho? A importância do comércio do café e a nescessidade de regulamentar as transações do produto, geraram a criação da OIC – Organização Internacional do Café, sediada em Londres.

Atualmente, os maiores consumidores de café, conforme informação do IBC – Instituto Brasileiro do Café, são Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Itália, Japão e Inglaterra. A cultura do café se estendeu por outros países, modificando o panorama da economia cafeeira, tornando o mercado mundial altamente competitivo. Diante dessa realidade é importante que a produção de café vise manter um alto padrão de qualidade, a fim de concorrer em igualdade de condições no mercado internacional.

WhatsApp
💬 Podemos ajudar?
Olá 👋
Podemos te ajudar?